A RELIGIÃO CRISTÃ E O CRISTO MÍSTICO
O cristianismo é o extrato de todas as religiões. Na religião cristã estão as
crenças, os símbolos, os ritos, as cerimônias, histórias e festas comemorativas
em geral; porém, perderam todo o significado místico, que é o mais importante,
ficando apenas com o sentido de uma história muito duvidosa. Os sábios
compreendem que a maioria dessas narrativas religiosas tem um fundo puramente
alegórico. Certas pessoas julgam ser muito perigoso o estudo mítico e místico
do cristianismo para a própria religião. Essas pessoas que vivem nas trevas não
podem compreender que a ignorância é o maior perigo que ameaça a Verdade.
– As contradições dos Evangelhos, dos quais burlam os cientistas, isto é, os
que se julgam sábios, são provas suficientes para demonstrar a pura verdade da
religião de Cristo. Os verdadeiros sábios acreditam num Cristo revelado segundo
o mito, segundo a história e segundo o espírito místico. São Paulo, o
Verdadeiro Arquiteto do Cristianismo, assim declarou em muitas ocasiões nas
suas epístolas.
A
religião cristã é puramente uma religião solar. A mitologia comparada tem sido
uma arma perigosa para o combate a todas as religiões. Os seus golpes mais
perigosos foram dirigidos contra Cristo. Seu nascimento de uma virgem, a degola
dos inocentes, seus milagres e ensinamentos, a crucificação e ressurreição, a
ascensão e demais acontecimentos revelados pela história, tudo isso nos mostra
a identidade das narrativas com outras vidas, surgindo daí a dúvida da
existência histórica de Jesus.
O
mito é uma narrativa dos movimentos que projetam sombras, e a linguagem
empregada nessas narrativas é o que se chama linguagem simbólica. Os símbolos
representam um alfabeto pitoresco empregado pelos autores do mito; cada símbolo
possui um determinado sentido. Sem o conhecimento dos símbolos é impossível a
leitura do mito, pois os primeiros autores dos grandes mitos sempre foram
iniciados habituados ao emprego de uma linguagem simbólica em sentido fixo e
convencional.
– Cada símbolo tem um sentido principal e vários sentidos secundários que
interpretam o primeiro. O círculo, por exemplo, é o símbolo do Deus infinito,
mas também simboliza o Sol, que, a seu turno, simboliza o Logos e a encarnação
do Logos. Também é o enviado. O iniciado e o instrutor do mundo são designados
pelo símbolo do Sol. Pois, assim como o Sol salva o mundo, também o Enviado
salva a humanidade. Assim, todo instrutor ou enviado é um Logos “Filho de
Deus”, o qual desce ao plano material para salvar o mundo das trevas da
ignorância e do despotismo, como o Sol salva a terra da obscuridade do frio e
da morte. É este o Mito Solar.
– O sol é a sombra física do Logos ou assim como a chama do seu corpo. Então a
encarnação do Logos se representa por uma sombra e em corpo mortal. O Mito
Solar, pois, é uma narrativa na qual, em primeiro lugar, aparece a atividade do
Logos ou Verbo no Cosmo e logo nos fatos de vida de um ser que é uma encarnação
do Logos, representado como Deus ou Semideus, sendo que sua carreira será
determinada pelo curso do Sol, por ser este astro a sombra do Logos. O Logos
Encarnado nasce com o Sol e, como este, no solstício do inverno, morre no
equinócio da primavera e é vencedor da morte, ascende ao céu. O Deus Solar
ocupa os seis primeiros meses do ano com um trabalho laborioso, ao passo que os
outros seis meses são um período de proteção e de conservação. Nasce sempre no
solstício do inverno, após o dia mais curto do ano (no hemisfério boreal) e na
noite entre 24 e 25 de dezembro, a noite santa por excelência em todo o ano. O
signo zodiacal da Virgem Imaculada Celestial está sobre o horizonte oriental à meia-noite,
e o Sol (Menino) do ano-novo dá então começo à sua jornada, desde o ponto mais
austral, em direção ao hemisfério norte, para livrar essa parte da obscuridade
e do frio, da umidade e da fome, que seriam inevitáveis se permanecesse sempre
debaixo do Equador.
– O Menino Solar nasce de uma virgem (Signo da Virgem) que está no horizonte e
conserva a sua virgindade depois do nascimento do Menino Solar. O Menino é
fraco e débil, pois vem ao mundo quando os dias são mais curtos e as noites
mais longas (ao norte do Equador); sua infância está cercada de perigos, porque
nesses tempos o reino das trevas é mais forte que o seu, e os infantes astros,
estrelas e luminares do céu são degolados com a aproximação do Menino Sol no
equinócio da primavera. Chega, finalmente, a um ponto do seu passo, a
crucificação, cuja data varia anualmente.
– O Deus nascido na aurora de 24 de dezembro é sempre crucificado no equinócio
vernal e dá a vida para alimentar os seus adoradores. Essas são as
características mais importantes do Deus Solar. É fixa a data do seu
nascimento, ao passo que a da sua morte é variável, devido ao fato de a
primeira corresponder a uma posição fixa do Sol, enquanto a segunda é uma
posição variável; pois a Páscoa (de passo) é variável e calculada segundo as
posições relativas do Sol e da Lua, porque esta data não ser refere à história
de um homem, mas sim à do Deus Solar.
– Ísis egípcia, Maria de Belém, cada uma delas é Nossa Senhora Imaculada,
Estrela do Mar, Rainha do Céu, Mãe de Deus. Ambas são representadas pela Lua:
Ísis, a cabeça coroada com a lua, representa a atração da Matéria, ao passo que
a virgem pisa a lua e é coroada com doze estrelas; ou seja, o Espírito
dominando a Matéria.
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– Ísis é representada com a lua crescente na cabeça, amamentando Hórus. Está
sentada numa cadeirinha conquanto o filho carrega uma cruz sobre os ombros. A
virgem do zodíaco é representada em esboços antigos por uma mulher amamentando
um menino, que representa o tipo de todas as almas futuras com os seus filhos
divinos. Representam Deváki com Krishna nos braços; Ishtar em Babilônia, sempre
com a coroa de estrelas, e seu filho Tamuz. Hércules, Perseu, os Dioseuros,
Mitra e Zaratustra tinham um nascimento tanto divino como humano.
– Os antigos cristãos sabiam que Jesus não nasceu em 25 de dezembro. Cento e
trinta datas foram escolhidas, a princípio, por diversas seitas, como dias do
nascimento do Nazareno, até que, no século IV, o papa Júlio I optou pelo dia 25
de dezembro: “Este dia 25 de dezembro em Roma acaba de ser escolhido para o dia
do nascimento de Jesus, a fim de que os pagãos ocupados com suas cerimônias (as
Brumálias, em honra de Baco) deixem que os cristãos celebrem os seus próprios
ritos sem ser incomodados”. Muitas fontes históricas temos à mão, mas o que aí
está é suficiente.
– O animal que simboliza o Herói ou Salvador é o Signo Zodiacal, no qual o Sol
atinge o equinócio vernal; este varia de acordo com a precessão dos equinócios.
Na
Assíria, Oanes tinha por signo Pisces ou Peixes e era considerado sob esta
forma; observamos que os altos sacerdotes da Babilônia ou da Assíria têm suas
mitras, adorno de cabeça, em forma de peixe, representando a fecundidade. Mitra
coincide com Taurus (Touro). Osíris também era venerado sob a forma de Ápis ou
Serápis, “O Touro”. O Sol em Áries, Carneiro ou Cordeiro é o símbolo da
Astarte, de Júpiter-Amon e de Jesus, o cordeiro de Deus. Também o Peixe é
aplicado a Jesus, como se vê nas catacumbas.
A
morte e a ressurreição do Deus Solar ou Seu Verbo no equinócio da primavera, ou
perto desta data, encontram-se difundidas, bem como o seu nascimento, no
solstício de inverno. Todos os anos a morte de Tamuz é chorada na Babilônia e
Síria. Adônis é chorado na Síria e na Grécia; Átis, na Frigia; Mitra, na Pérsia,
e Baco e Dionísio, na Grécia. No México encontramos a mesma idéia acompanhada
da Cruz. (Williamson, Great Lan, págs. 40, 42, 157 etc.)
– Existe um costume, comum desde a Antiguidade, que é o de não comer carne
quando morre um ente querido. Este costume, demonstrando a aflição e grande
tristeza dos parentes, é uma herança de tempos remotos. Quando morreu Tamuz,
Ishtar chorou e não aceitou qualquer alimento por causa de sua profunda
tristeza. Pois bem, esta tristeza nos legou o jejum que precede à morte do Sol
no equinócio vernal (a quaresma); encontramos esse costume no México, na
Babilônia, na Assíria, no Egito, na Pérsia e na Ásia Menor. Sua duração, em
certos casos, é de quarenta dias. (Williamson, Ob.cit.120-123.)
O
Cordeiro era o signo do equinócio vernal, na época do Cristo; ao passar (pela
Páscoa) o grande círculo do horizonte, “foi o cordeiro de Deus crucificado no
espaço”.
Essas
narrativas nunca se referiram de modo particular a um indivíduo chamado Jesus,
Osíris, Krishna ou outro fundador de uma religião, senão ao Cristo Universal. O
Cristo do Mito Solar era o Cristo dos Mistérios e o Cristo dos Mistérios é o
homem Deus ou o Deus-homem; é o Cristo Místico.
– Em todos os templos de mistério, os hierofantes ensinaram que existe no Sol
uma força espiritual, assim como uma força física. Esta última é a dos raios
solares, que fecunda a natureza, como o pai fecunda a mãe. Produz o crescimento
das plantas e, portanto, sustenta e conserva os reinos animais e humanos. É uma
energia construtora, criadora e fonte de toda força física.
O
drama do Cristo Solar e do Cristo Místico é o drama do homem, como veremos mais
tarde, pois o homem tem dois nascimentos: um nascimento físico e outro místico.
O nascimento físico pode-se dar em qualquer época; o nascimento místico, porém,
por meio da Iniciação, era efetuado nos templos antigos, à meia-noite do dia 24
de dezembro, e, durante a cerimônia, o neófito, o menino, via o Sol espiritual
(estrela de Belém na casa do pão), via Cristo, seu salvador espiritual, no
coração, assim como o Sol físico era o seu salvador físico.
O CRISTO MÍSTICO
– Muitas pessoas duvidam da existência histórica de Cristo. Vamos deixá-las em
suas divagações, pois não temos tempo para demonstrar a existência do Sol.
A
narrativa da descida do Verbo ao seio da matéria é tão perfeita, tão verdadeira
quanto a descida do Eu Sou ao meu corpo.
Jesus
identificou-se com Cristo, o Verbo por quem todas as coisas foram feitas. Para
as igrejas, este fato divino tornou-se datas históricas de Jesus, a quem
consideravam a Divindade Encarnada (Cristo Místico). Assim como o Cristo dos
Mistérios, o Logos, a Segunda Pessoa da Trindade, é o Macrocosmos, também o
Microcosmos ou o homem encerra e representa o segundo aspecto do Espírito
Divino, chamado, por isso, Cristo. O segundo aspecto do Cristo dos Mistérios é,
portanto, a vida do iniciado, a vida do segundo nascimento no Reino Interno.
Durante esta Iniciação Interna, Cristo nasce no homem e, mais tarde, se exalta,
para tornar mais inteligível ao iniciado a natureza do Espírito nele.
– Somente por meio do amor o homem pode aspirar à Iniciação. Pelo amor
verdadeiro o homem pode tornar-se “puro, santo, sem mancha, e viver sem
transgressão”, chegando assim a ser iniciado, a ser Cristo conscientemente.
Esse é o caminho das provas que leva à “porta estreita”, “ao caminho da
santidade” e, pois, “ao Gólgota, com a cruz às costas”.
– O Cristo Sol no homem é o Fogo Divino da alma, que se deve converter em luz.
“Nosso Deus é fogo”, disse Moisés. É o Menino que nasce como homem no presépio,
Belém (casa do pão), o corpo físico.
O
candidato deve desenvolver estas qualidades de maneira perfeita, antes que
Cristo possa nascer nele. Deve preparar a morada para este Menino Divino que
vai crescer dentro dele. Os preceitos necessários para desenvolver essas
qualidades estão perfeitamente traçados no Sermão da Montanha, e nada mais
temos que dizer sobre esse particular.
– O maior mistério do cristianismo está encerrado nos quatorze versículos do
primeiro capítulo do Evangelho de São João:
1.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2.
Ele estava no princípio com Deus.
3.
Todas as coisas foram feitas por ele,
e sem ele nada do que foi feito se fez.
4.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
6.
Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era
João.
7.
Este veio para testemunho para que testificasse da luz; para que todos cressem
por ele.
8.
Não era a luz; mas para que testificasse da luz,
9.
Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo.
10
. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
11.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de
Deus; aos que crêem no seu nome;
13.
Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
varão, mas de Deus.
14.
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a
glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
– Todas as religiões, antigas e modernas, colocaram e colocam sobre altares a
imagem de um homem ou de uma mulher para simbolizar o poder divino e o adorar.
A Arca de Noé, a Terra Prometida, o presépio de Belém, o Santo Sepulcro, o
Tabernáculo, Jerusalém, o Templo de Salomão etc. etc. não são mais do que o
mesmíssimo corpo humano onde arde o Fogo Crístico.
– O homem é um sistema universal composto de astros, planetas, sóis, luas,
cometas, vias-lácteas e constelações; deve seguir a mesma lei do sistema maior.
Quanto mais perfeito é o homem, tanto maior cumprimento dá a estas leis, como o
fez Jesus Cristo. Nós também “devemos chegar, algum dia, à estatura de Cristo”.
– Há uma só religião com muitas instituições religiosas, assim como há uma
única humanidade com muitas raças e costumes. O grande arcano das religiões,
como temos visto, está no poder do Fogo Crístico e da Luz Inefável. O Sol,
sempre o Sol, era adorado como o Grande Fogo que ardia no meio do Universo, ao
passo que o Fogo Divino está mais além do Sol físico. Por este Fogo Divino
Interno, que foi adorado no princípio, o homem nos deixou um símbolo no
archote, na espada flamígera e na coroa de ouro cujas pontas se assemelhavam
aos raios solares. Todos os homens-deuses tinham nomes que significavam
Fogo-Luz: Júpiter, Apolo, Hermes, Mitra, Baco, Odin, Buddha, Krishna,
Zoroastro, Fo-Hi, Ágni, Hiram Abiff, Sansão, Josué, Vulcano, Alá, Bel, Baal,
Serápis, Salomão, Jeshua (Jesus), e muitas outras divindades.
– A fábula de Prometeu é um véu da Verdade: a alma humana, ao possuir o fogo
divino da humanidade, empregou-o para a destruição; foi encadeada à rocha
(corpo) e devorada pelo abutre (dos desejos), até que um homem conseguisse
dominar o fogo e se tornasse perfeito. Esta profecia foi cumprida por Hércules
(Cristo), que (nascendo como Luz no mesmo fogo da alma) libertou a que, havia
tantos anos, estava submetida ao tormento (nascendo no seu coração pelo segundo
nascimento ou Iniciação).
A
luz que brilha no sistema nervoso é o mediador entre o Deus Íntimo e o homem
externo. É a ponte que une o Espírito à Matéria (Ver La Religión de los Sábios). Por causa desta Luz o filho do homem é
chamado filho de Deus. Os filhos da Luz conseguiram ver o Sol Interno
invisível. As antigas religiões buscavam a maneira de captar o fogo cósmico que
circulava no éter; por isso, os sacerdotes se valiam de plantas, de animais e
de metais de propriedades absorventes dessa Luz Invisível.
O cristianismo
emprega o fogo em seus ritos com o incenso para simbolizar que, assim como o
fogo queima o incenso e este se converte em fumaça perfumada, também o Fogo
Divino, no homem, consome da alma tudo quanto é grosseiro, para convertê-la em
fragrante perfume. Os campanários, as torres, os obeliscos e as pirâmides são
símbolos do falo portador do fogo.
– A árvore edênica significa o falo e o seu fruto é o fogo cósmico. O ouro dos
templos tem a cor da luz solar. Os círios acesos nos altares e a pequena
lamparina vermelha alimentada com azeite de oliva representam o Fogo Divino.
O
azeite é o símbolo do sangue: este mantém a chama sagrada do homem, assim como
o outro sustenta as chamas físicas.
O
sangue é o veículo da chispa divina. Esta chispa move-se com a corrente
sanguínea e não se encontra em qualquer ponto particular do organismo. A
vibração desta chispa pode ser dirigida e localizada em qualquer parte do
corpo, por meio da vontade concentrada. O sangue incendeia-se nas veias e
manifesta o Fogo Divino Interno.
– O iniciado participa do Divino Poder Solar. Transfigura-se. Este poder se
manifesta em forma de auréola de luz ao redor de sua cabeça, porque o fogo do
Espírito Santo no Sacro se converte em luz no cérebro, e o iniciado se converte
em Onisciente sem necessidade do intelecto. Esta auréola de luz, com o tempo,
converte-se em diadema para o rei, mitra para o bispo, auréola de luz para a
cabeça dos santos. O Fogo Criador, ao subir pela espinha dorsal e, finalmente,
chegar ao terceiro ventrículo do cérebro, toma uma formosíssima cor dourado e a
irradia em todas as direções, formando uma coroa sobre o osso occipital, em
forma de leque.
Esta luz significa a regeneração do homem que alcançou a “estatura
de Cristo”. Ela muda de cor conforme o pensamento: a pureza se converte em
branca; a espiritualidade, em azul; o saber, em amarelo; o amor, em
cor-de-rosa, etc. Temos hoje muitos meios de demonstrar estes fenômenos e
muitos homens de ciência estão ocupados no estudo da aura humana.
– Já dissemos que o homem deve ter dois nascimentos: um físico e um espiritual.
Tem de ser homem e Cristo ao mesmo tempo. Vamos agora tratar de decifrar o
mistério do Cristo no homem físico assim como deciframos o significado do
Cristo solar.
O
grânulo de vida fica depositado no útero materno, porta da vida, durante nove
meses; após esse tempo, nasce, e a Alma Cristo permanece no pesebre do coração,
no corpo (casa de carne). O Menino-Cristo no homem está rodeado de animais: a
ignorância do burro, a debilidade do cordeiro e a brutalidade do touro. O rei
das trevas, no corpo, com a ambição e o orgulho, quer matar o novo rei, para
livrar-se do remorso e ter ampla liberdade de seguir os desejos da carne. O
neófito é atacado pelo fantasma do umbral no segundo nascimento e é perseguido
por todas as hostes do inferno (mundo inferior). Foge, então, para o Egito,
isto é, refugia-se no mundo interno, abandonando as tentações do corpo e sua
paixões, a fim de crescer espiritualmente e voltar, depois, ao cumprimento de
sua missão na vida. Assim como o Sol percorre aparentemente os 12 signos zodiacais, também o Espírito Crístico tem de percorrer todas as dependências do
seu sistema no corpo, que é a miniatura do Universo. A cabeça é o Oriente do
homem, de onde sai o Sol Cristo.
O iniciado deve dirigir sempre os seus
pensamentos e suas práticas para o cérebro, onde tem a raiz de sua trindade. A
porta para o Ocidente é o coração, por onde deve entrar o neófito. Por esta
porta o neófito ou recém-nascido é conduzido para as piras do batismo (que se
acham no fígado, órgão que forma, por suas emoções e desejos, o corpo astral ou
de desejo); ali ele é batizado e submetido à prova d’água, que significa o
domínio do desejo. O recém-nascido jura ante o altar no coração, onde brilham
um Sol e seis luminares. (O Sol foi depois representado pela custódia, símbolo
do Sol resplandecente, ou símbolo do Fogo Divino; os seus centros magnéticos ou
planetas são simbolizados pelos seis círios.)
(Para
aprofundar o estudo sobre as Iniciações de todas as religiões e sua relação com
o homem é necessário estudar a obra do Dr. Adoum intitulada As chaves do reino interno ou o conhecimento
de si mesmo.)
– Do capítulo anterior conclui-se que o Chrestos (que em grego significa “Bom”)
é uma qualidade que deve ser adquirida antes de poder se tornar um Cristo, um
ungido. Após ter chegado a viver uma vida virtuosamente esotérica, poder-se-á
começar a viagem ou o caminho para a Iniciação, a senda da provação – a senda
que conduz à porta estreita – caminho da Santidade – caminho da Cruz. O
aspirante deve adquirir as sete virtudes para sentir o ardor pela felicidade de
ver Deus e de unir-se a Ele (São Mateus 5:8).
– O Espírito que mora no corpo é um fragmento invisível de Deus. É trino, por
ser Deus. É Poder, Amor e Saber. O Pai é o Poder; o Filho é o Amor, e o
Espírito Santo é o Saber. A Iniciação consiste em dar completa liberdade ao
Íntimo para que obre por meio dos seus três atributos. O Cristo Místico, pois,
é o ser interno do homem, e, por conseguinte, é duplo. É o Logos, Verbo ou
Segunda Pessoa da Trindade, que desce à Matéria. Em seguida o Amor, segundo
aspecto do Espírito Divino, faz evoluir o homem. Um representa os processos
cósmicos no Mito Solar, o outro representa o processo que se passa no
indivíduo.
Ambas as fases, a Solar e a Individual, se encontram na narrativa
dos Evangelhos; sua união nos apresenta uma imagem do Cristo Místico. O Cristo
Cósmico, a divindade que se envolve com a Matéria, é a encarnação do Logos ou
Deus feito carne. Esta Matéria-Mãe recebe da Terceira Pessoa da Trindade, o
Espírito Santo, a vida que a anima e lhe permite tomar forma. A Matéria
condensada é modelada em seguida pelo Filho, segundo Logos, que se sacrifica
encerrando-se ou crucificando-se, a fim de tornar “homem celeste”.
Do
seu corpo fazem parte todas as formas. Isso é o processo cósmico dramaticamente
representado nos mistérios.
“O
Espírito de Deus pairava sobre as águas. E as trevas estavam sobre a face do
abismo”, disse o Gênese.
Logo
lhe foi dada a Forma pelo Logos: “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem
Ele nada do que foi feito se fez”, disse São João no seu Evangelho.
– Uma vez terminado o trabalho do Espírito, o Cristo Cósmico e Místico pode revestir-se
de Matéria, entrando no seio da Virgem Matéria. Esta Matéria foi vivificada
pelo Espírito Santo a fim de receber o segundo Logos, e, assim, Cristo se
encarna e se faz carne; a vida e a matéria O envolvem com uma vestimenta dupla.
É a descida do Logos na Matéria, descrita com o nascimento do Cristo de uma
Virgem. Isto se torna em Mito Solar, esse é o nascimento de Deus Sol no momento
em que o Signo de Virgo ou Virgem se levanta no horizonte. Começam aqui os
símbolos e as lendas. O Menino nascido está sujeito a todas as debilidades
infantis.
Ele, então, representa a alma frágil que nasce para a evolução. A
Matéria o aprisiona para matá-lo; ele, porém, lentamente triunfa e modela o
corpo para um destino sublime. Consegue a maturação do corpo e se crucifica
nessa matéria com a finalidade de derramar da cruz todas as energias de sua
vida, sacrificada em benefício do progresso da criação.
Padece,
depois morre para os sentidos e é sepultado; mas levanta-se com o corpo astral
radiante que torna veículo ou vestimenta (da alma) e vive através das idades.
A
crucificação de Cristo é uma parte do grande sacrifício cósmico. Todas essas
alegorias da crucificação nos mistérios se materializavam até o ponto de
tornar-se morte verdadeira de uma pessoa, sofrida na Cruz e num crucifixo
levado por um ser humano que expira.